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terça-feira, 9 de julho de 2024

Autor Convidado

      



   Nero, pseudônimo de Roberto Filipe Assis Simões é Licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com Minor em Estudos Portugueses e Mestre em Ensino de Português pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa.É professor de Português e de Literatura Portuguesa no Ensino Secundário. 



XVIII 

SE UM DIA ME SECAREM OS VERSOS 

Se um dia me secarem os versos,

 cavarei, absorto, a terra,

subirei, não morto, a serra,

andarei por aí,

seguro de que 

mais fértil é aquele que erra.


Se um dia me levar o esquecimento

e me faltar o que dizer,

viverei, translúcido

como a luz que m'esventra.


Darão as letras lugar ao vazio,

nas fatias que m'extraem 

de estio a estio.


Ficarei bem. 



 GESTO

Calco o húmus, o mofo e o bolor,

que pelas solas se m'entranham,

 do hálux aos montes e ao tarso

e ao fundo de mim. 


Sinto o frescor , a decomposta dor,

os vermes que dos calos

aos veios me sugam e aos ossos

e aos talos de mim. 


Não me desgasto, não me retraio,

Pela diáfana pele, a luz que trago,

que os reverte e faz florir,

que os adverte e faz sentir

a metamorfose plural,

o auxílio natural,

a comunhão total.


Na barriga, agora, o bago insano,

o fenômeno raro, hermafrodita,

o sêmen e a prova súbdita.


Renasço na palavra.

E nela... a possibilidade. 


    






          

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