Nero, pseudônimo de Roberto Filipe Assis Simões é Licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com Minor em Estudos Portugueses e Mestre em Ensino de Português pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa.É professor de Português e de Literatura Portuguesa no Ensino Secundário.
XVIII
SE UM DIA ME SECAREM OS VERSOS
Se um dia me secarem os versos,
cavarei, absorto, a terra,
subirei, não morto, a serra,
andarei por aí,
seguro de que
mais fértil é aquele que erra.
Se um dia me levar o esquecimento
e me faltar o que dizer,
viverei, translúcido
como a luz que m'esventra.
Darão as letras lugar ao vazio,
nas fatias que m'extraem
de estio a estio.
Ficarei bem.
GESTO
Calco o húmus, o mofo e o bolor,
que pelas solas se m'entranham,
do hálux aos montes e ao tarso
e ao fundo de mim.
Sinto o frescor , a decomposta dor,
os vermes que dos calos
aos veios me sugam e aos ossos
e aos talos de mim.
Não me desgasto, não me retraio,
Pela diáfana pele, a luz que trago,
que os reverte e faz florir,
que os adverte e faz sentir
a metamorfose plural,
o auxílio natural,
a comunhão total.
Na barriga, agora, o bago insano,
o fenômeno raro, hermafrodita,
o sêmen e a prova súbdita.
Renasço na palavra.
E nela... a possibilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário