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domingo, 17 de julho de 2022

Alexandria


 Quem irá mensurar

todos os vocábulos pronunciados

de Adão ao Fim dos Tempos? 


Nossas células transpiram 

palavras 

no dicionário dos poros.

Nossa pele é vestimenta 

a encobrir a nudez de Eva. 


Vogais, consoantes,

ideogramas 

e continua anônimo

o mundo.

Casamo-nos com aquilo 

que em nós nomeia.

Ignoramos aquilo 

que em nós sabe.


Cunhamos moedas,

colecionamos selos,

enlouquecemos Van Gogh,

matamos Rimbaud. 

Extinguiu-se a vida 

com os dinossauros. 

Carregamos pedras 

que ainda não se converteram

 em roda. 

Dos mortos guardamos 

ouro e sobrenome.

O tempo se calcifica 

nas veias extintas 

dos fósseis.

Fragmentos devoram

o inteiro 

nos Manuscritos do Mar Morto,

como se fosse, o mundo, 

pálpebra a encobrir

o pasmo do olho.

Inventamos Shakespeare 

como se Shakespeare não houvesse

 nos inventado. 


Talvez um dia possamos 

escrever 

com o mesmo zelo 

dos suicidas 

e a solicitude tão terna 

dos incendiários

da Biblioteca de Alexandria. 


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