Há um momento
em que o mundo se recolhe,
sequer ladram os cães.
Tudo se retira e se desventra,
viver se torna concha
no abissal do estéril:
deixa de ser vidro o vidro,
deixa de cortar , a faca,
mimetizam-se as coisas
para se tornarem nulas:
não mais há musgo ou pedra,
só o sintoma,
desritualiza, o mundo,
a agudeza do instante:
raça, instrumento, nome
se desmentem
com inconsistência
de sombra sobre a água:
tudo é instinto e espanto
nos descaminhos
do rigoroso,
tudo é inverno e cavidade
nas intimidades do mínimo:
não há face nem totem
nos recônditos do escuro,
viver é anonimato
a destituir o denso,
instante de amolar lâminas
para sangrar silêncios,
carne do vibrátil
a render-se ao imóvel.
(foto; Cleber Pacheco).
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