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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Resenha


 

    Mundialmente famoso devido ao polêmico romance Lolita. o escritor russo Vladmir Nabokov, deve ainda ser melhor conhecido no Brasil. O livro A Defesa é um ótimo motivo para desbravar  a literatura do autor. 

   O inquietante personagem Luzhin é uma grande criação, sem dúvida. Sempre deslocado, desajustado em qualquer ambiente, quase incapaz de expressar sentimentos, sem nunca conseguir compreender o mundo à sua volta, o personagem  se mostra sempre distante de tudo e de todos, incluindo os pais,  por quem nunca demonstra o menor afeto. Ainda menino, seu pai nutre esperanças de que ele realize grandes feitos,se destaque pelo talento e genialidade. O menino, no entanto, não consegue se interessar por nada. Na escola se revela medíocre, não consegue conviver com os colegas nem se interessar por nenhuma disciplina. Por mera casualidade, descobre  o jogo de xadrez e enfim desenvolve habilidades. Torna-se, finalmente, alguém de destaque por sua perícia e por algumas jogadas assombrosas. No entanto, durante um torneio, acaba entrando em colapso. 

   É nesse período que conhecerá aquela que se tornará sua esposa, a única pessoa a quem parece dedicar algum afeto. Nabokov vai desenvolvendo a narrativa com extrema habilidade, com um estilo cheio de humor e fina ironia, criando situações desconcertantes que nos fazem rir, pensar, intrigando-nos com a criatura taciturna e chamada de  palerma pelos amigos da esposa.  Esta, movida por um vago romantismo e algo próximo da compaixão,  busca mantê-lo afastado  dos jogos de xadrez, tentando despertar o seu interessa para outras áreas sem  nenhum sucesso.  Luzhin não está apto para mais nada.  Não entende a política, os negócios, as artes. Na verdade, não entende coisa alguma a não ser  o mundo do xadrez onde se recolhe, mesmo quando deixa de jogar. E é com este ponto de vista  que ele passa a observar e a sua própria vida, tentando escapar  das armadilhas da existência como se houvesse um adversário sempre prestes a derrotá-lo, a prejudicá-lo de um modo misteriosos até que consegue enxergar um padrão: as repetições devem ser evitadas e para isso ele sente que precisa criar uma defesa a fim de derrotar a animosidade do mundo e da existência contra si mesmo.  

   De forma magistral , Nabokov vai  desdobrando os temores  do personagem, acentuando-os e revelando  a crescente gravidade da situação e seu desfecho trágico. 

   Figura incômoda, canhestra,  incompreendida, Luzhin revela a inaptidão para viver num mundo que considera como absurdo e sem sentido. 

    A Defesa é uma  obra-prima a desafiar os limites da racionalidade, revolvendo as vísceras da estranheza do existir. 

   

     

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