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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Resenha


 
   Reler é tão importante quanto ler. E posso afirmar que, neste caso, depois de anos, foi uma sábia decisão pegar este livro da minha biblioteca e mergulhar em suas páginas mais uma vez.
   Com praticamente apenas três personagens conduzindo a história, Carson McCullers consegue, em A Sócia do Casamento ( The Member of the Wedding), criar um mundo intenso, em que as conversas entre Frankie, Berenice e o pequeno John Henry na cozinha nas tardes de verão refletem suas angústias, inquietações, experiências, limitações, sentimentos. São cenas de grande intensidade, reveladoras e nos tocam de modo profundo.
   A adolescente Frankie, sentindo-se deslocada, sozinha, deseja ardentemente pertencer a algo, a alguém, fazer parte do mundo, de um grupo e,em suas ilusões um tanto ingênuas, acredita que seu irmão, prestes a se casar, a levará para morar junto com o novo casal. Mal ela sabe o golpe a ser sofrido em seus planos.
      Eles são o nós de mim. Na véspera, e em todos os doze anos de sua vida, fora apenas Frankie. Era uma pessoa eu. que tinha de se virar e fazer as coisas sozinha. Todas as outras pessoas tinham um nós a reivindicar, todas, menos ela. (...) Todos os sócios dos clubes  têm um nós a que pertencem, e a respeito do qual falam. Os soldados no exército podem dizer nós e até mesmo os criminosos,acorrentados uns aos outros. Mas a velha Frankie não tinha nenhum nós a reivindicar, a menos que fosse o terrível nós de seu verão com John Henry e Berenice-e  aquele era o último nós do mundo que desejava.
   Na primeira parte do livro, ela faz seus planos. Na segunda, vive suas "aventuras" pela cidade contando a estranhos sua partida iminente. Subdividida em três momentos- manhã, tarde e noite-, é um dos pontos altos do romance. As expectativas da adolescente vão se intensificando e ela se mete em confusões. Há trechos espetaculares, construídos graças ao grande talento da autora e o ponto alto do livro é o instante em que a jovem Frankie senta-se no colo de Berenice, que é também abraçada pelo menino e há um instante de grande desamparo, de tristeza, de estranhamento do mundo e da vida, onde tudo parece hostil, distante e enigmático e todos buscam o mais próximo possível  de um acolhimento. Poderia soar piegas,mas não acontece. A cena nos comove por sua intensa humanidade, pelo revelar das fragilidades e da nossa humana condição.
   A terceira parte ocorre rapidamente, como um anticlímax e os fatos, anteriormente se desenrolando de modo lento e angustiante, sucedem-se em profusão até o final desconcertante.
   A Sócia do Casamento é, sem dúvida, um ótimo livro e merece nossa leitura e atenção. Escreveu Tenessee Williams a respeito da autora:
    Encontrei em seu trabalho uma intensidade e uma nobreza de espírito que não tínhamos em nossa prosa desde Herman Melville.
 
     

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