sábado, 22 de março de 2014

METAMORFOSES- Parte I

Ele sempre passara despercebido em toda a aldeia.Homem sem grandes atrativos ou habilidades,vivia sozinho e meio esquecido de todos até o momento em que resolveu entrar na floresta no final da tarde.A partir daí, começaram as alterações que afetaram a todos:animais selvagens seriam encontrados mortos,dilacerados;os homens, a correr perigo; as mulheres,a enlouquecer.
Ele estava com 32 anos.O casebre onde morava não atraía a visita de ninguém,sua evidente falta de beleza tornava-o ignorado,a falta de capacidades que o destacassem condenavam-no a uma existência quase nula.Nenhum serviço seu era solicitado.Mantinha uma conduta discreta plantando hortaliças.Talvez por isso ou por um impulso aparentemente incompreensível,decidiu,num anoitecer,ir até o lago que ficava oculto na floresta para nadar nu.Nunca tivera tal atitude antes.Se indagado,não saberia explicar por qual motivo se dirigira até o local,tirara a roupa e se lançara à água como quem vai suicidar-se,embora,de fato,não se suicidasse.Houvera um entrega no mergulho,um ato impensado ao cometer tamanha ousadia sem intenção alguma de ser ousado ou de transgredir.
Três dias depois,os acontecimentos que abalaram a indolência da aldeia se manifestaram: o pároco ,ao ir visitar um doente que morava mais afastado encontrou um cervo cujas vísceras haviam sido arrancadas,deixando um medonho rastro de sangue pela relva ainda meio congelada pelo frio da manhã.Na mesma noite,ao retornar para o ambiente familiar após um dia de trabalho,um lenhador chegou esbaforido,em pânico,contando ter sido perseguido por uma criatura misteriosa e assustadora oculta pela escuridão.Na madrugada,uma velha viúva acordou aos gritos,tomada pelo pavor decorrente de horrendos pesadelos,deixando-a trêmula horas a fio,causando-lhe,então,insônia perpétua.

(CONTINUA)

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