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sábado, 20 de julho de 2024

Biblioteca

 


(Para Maria Elisabete in memoriam).
Rever, sozinho,
o que juntos já vimos
não é rever:
é desnudar-se
em pleno inverno
enquanto o ar açoita
os alvéolos da melancolia;
nela até a luz sangra
e coagula a angústia
do que não pode ser
transpirado.
Viver não é só um corpo
à deriva
testemunhando a lenta
polinização da memória,
é, também, o mumificar
do mudo
que, ao latejar, se calcifica
onde a ausência
nos alcança.
Chegará,
também, meu dia
de calar-me
e aí só restarão
meus livros não escritos
depositados
infalivelmente
na Biblioteca do Nada.
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