luís filipe
pereira. escritor,
ensaísta, poeta. licenciado e pós-pós-graduado
em filosofia. Cursou literatura francesa e
direito. investigador em filosofia e em literatura. quatro livros de poesia
publicados: A tela do mundo (5ª ed.), No lugar da pouca farinha (2ª ed.),
Consoante as estevas (2ª ed.), Elogio da
espera. no prelo
(ambos com os leitores, no mês de junho): livro
de poesia & ensaio sobre António Ramos Rosa.
vários ensaios publicados. muitas dezenas de
colaborações em antologias, recensões,
revistas portuguesas e estrangeiras. prefácios
(p.ex. Torre de Silêncio de Cléber Pacheco)
& posfácios (p. ex. A Outra Margem de
António Salvado). recentemente participou
em antologia de celebração dos 50 anos de abril
de 1974. também mestre em teoria
da literatura contemporânea. pós-graduado em
literatura espanhola. & etc.
[nada de novo
todavia: em quatro partes
1.
abelhas filiais em seu voejar contundente
difundem a derrocada em climas fechados
a pestilência de haver existência tingida
em decibéis sobre o estendal da ínsigne náusea
o poder
haver existência abaixo da velocidade digital da terra
e das centopeias da impassibilidade
uma vez na net para sempre na net
com base neste dito oracularmente impuro
o duelo a diatribe ostensiva
sobre o póstumo sobre o próximo
interditam
aos poetas a quota-parte de semideuses da orfandade
em frente pesadíssima pintando calcificados
os dedos como pilatos
com tintas de enfeitar o referente de imagens
o hedonismo
haver existência milagre nenhum
tão-somente convergência a prodigar
a ambiguidade das transparências dispensadas
no susto das cesuras redentoras
tudo isto partilhado na inédita ágora dos chats
dispneias que se abrem às ocasionais notoriedades
de quem à mercê em corredios laços de pagelas
bacterianas bipolares e homólogas
egos despertos egos
promocionais
cães de fila donos do
conflito
colonatos franco-atiradores do
exílio
matilhas impudentes de abelhas
rainhas
dezenas por minuto pondo ovos nas trincheiras do negócio
[nada de novo
todavia
2.
espécimes raros os cérebros seminovos omnívoros
recentíssimos cérebros mba´s
não obstante no antraz cutâneo a segunda via
da pele asmática cérebros em fúria que carregam
nos ombros os castelos da pátria
não profusões de armas automáticas de hipnóticas elipses
mas simplesmente o uso gasto das palavras à disposição
por catálogo mas sem mudança de estado porque
as palavras retidas nos sapinhos das mucosas onde
nem ao menos musas mudas só bocas
de talha pintada
pingentes dum ceptro de dioptrias sobre a luz especiosa
de hemiciclos de águas derramadas e sequer proteínas
o egoísmo
haver existência não tem por corolário
uma coluna um colonato de abreviaturas
da língua de tão mortas de porfia condecoradas
em mesas de rúbeas temperaturas compartilhadas
haver existência no caminho para a festa das palavras
não tem por determinação as circunstâncias as estrelas
nomeadas as últimas-horas
dos noticiários
quantos pobres quantos feridos quantos mortos
nem tem por guide line grelhas de citações caudalosas
nem o quotidiano despido sem pudor para que continue
inalterável no contínuo silvo ensombrecido
nem a escuta esmaecida das palavras porque as palavras
com mangas vergões entranhas volumes necessidades
haver existência incorresponde à alheação da falta
de quem de frente para os muros busca o subtil a fenda
que não vemos
também
não são condições suficientes de haver existência
a chuva calcinada os corredores mortais a tortura
a prazo sem termo menos ainda os galhardetes
mercadejados ou os fogos-de-artifícios desliteralizados
espumas sem estudo e no escuro empalecidas
sequer as condições contractuais que engalanadas
adiantam em triunfo os sequazes da língua
em rumor que não ouvimos dos últimos condenados
prometidos arautos da literatura suã com arroz
porque a poesia não vem depois não retroada
ao posterior em inglês perfeito na pena da pomba
e amedalhas
[nada de novo e todavia
3.
haver existência
é a esferográfica em punho aberto
a estriar a determinação sem quem
do poema somente uma
possibilidade
pregada às articulações laterais de que a mão as arcadas
é a palavra que vinda do ermo escala o silêncio
até à acústica do jamais nomeado
não é a caneta venal entre o peso e o pulso neutro
dos atléticos pandas a tribordo da fama
haver existência é o poema que vem à mão
e sobe ao nome pela mão concreta
pronta para dizer-se em palavras
haver existência não é a festa de finalistas
do além do que ainda não tempo dos jovens sempre
acne nenhum comprando sem custo as palavras
em luto e sem sobressalto
o esquecimento
diante do ócio sobredeterminado pelas imagens
à mão nos ficheiros coexistentes com encéfalos
unidimensionais pousados entre os joelhos e os teclados
o padecimento
haver existência
irredutível à abreviação por moços-de-recados
com a função de acelerar nos atritos o teor sub-reptício
da sedição do
vazio do não indício
para que estertor o haver nas escalonadas vértebras
da delonga rapidíssima de farsas e alguidares donde
albergues de tomar sem tomar-lhe a modelação
dos primeiros traços nem a operação de vestígios
a crendice
[nada de novo e todavia
4.
haveria porventura alguma espécie de existência
se possível a escolha em liberdade a luz dos corvos
se possível o azul sabor da cesura
se soubéssemos pungir as palavras envernizadas
do auspicioso século dos cérebros cérebros-start-ups
os cérebros mais preparados de sempre
seria possível se percorrêssemos os verbos escalados
até ao cume abrupto da carne inconformada
ou se abríssemos extensões ainda
aonde nunca chegássemos
certamente nos não faltariam suãs divisórias
talvez nas crespadas metrópoles esplendorosas de ritmos
de aniquilação do corpo tomado pelo espírito de competir
pela imagem mais inédita desgarrada de quão aguda
a palavra que fosse ambípara difusão do espaço
haver existência não indigita multimilionários da forbes
com bíceps blasés e gravatas em tendência
porque se alguma coisa falta é a demora dos efeitos
das endomorfinas e dos ansiolíticos a genética
da cerebralização dos cérebros exportados
de surtos psicóticos ao resto e
ao cabo os efeitos
de quem de cá ou de lá dos muros duvida
de territórios pendentes de candelabros
a carência
se alguma coisa falta
não é a rendição ao jugo sorridente
nem o poder a descoberto na turística estadia do tempo
a transparecer nos terraços da quimera nos miasmos
da fome da hipocondria da imagem
se alguma coisa falta
é acicatar os pontos de lume da língua resoluta no sono dos justos
é permitir a diabrose das sebes por dentro dos muros intravenosos
cada vez mais espessa de infiltração
a punção
excrescência de haver existência é um cérebro laboratorial
emudecido industrial hiper-produtivo porque bisturi nenhum
arranca da palavra os seus túneis de silêncio
porque a palavra não é uma fera doméstica
que ataca mudas decadências do sinal sem dó nem proveito
um cérebro proverbial morra marta morra farta
é um cérebro nas margens do lugar e do tempo
flexionados ambos na zona estéril dos cometas
das olheiras pintadas com o roxo do costume
e tanta a pedra batida que não fura removida pela arte do súbito
do susto em surdina a cofiar nas imagens a letargia
haver existência
não carece dos sistemas quiromânticos
bem mais empíricos que os códigos de barras
no miolo das alfaces
que o lucro jovem sempre jovem
haver existência não é postulado dum mínimo de existência
se no haver tão-sós os lobos solitários da aglutinação
que atacam em manada a bem do cautério ao sucesso
à febre à glória de barro
aleijado ao efeito imediato
Para ler e refletir. Poemas de profundidade abissal.
ResponderExcluirPoemas que denunciam a ignorância, egoísmo da existência humana, inundada pelo rio da dependência pela tecnologia informática em detrimento da dignidade. Parabéns ao autor.
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