Nelson Alexandre nasceu em Maringá, Paraná. É autor de Paridos e Rejeitados (Contos, 2012) e Poemas Para Quem Não Me Quer (Poesia, 2013), ambos publicados pela Editora Multifoco -RJ. Em 2005 recebeu Menção Honrosa no prestigiado concurso de contos Newton Sampaio , quando então viu seu trabalho publicado em uma coletânea pela primeira vez. Fez parte da coletânea 101 Poetas Paranaenses , publicada pela Biblioteca Pública do Paraná, em 2014. Teve textos publicados pelas revistas: Literacia, Outras Palavras, Flores do Mal, Germina, e Diversos Afins e nos jornais: Rascunho, Bebop, O Duque e O Diário. É graduado em Letras de Universidade Estadual de Maringá.
REFERÊNCIA POÉTICA
Você, Drummond, nunca foi minha referência,
E não nego,
Pois, não sou homem de negar aquilo que defendo
E digo,
Também não sou traidor,
Não sou Judas, Drummond,
Eu sou poeta, como você,
Mas nunca o tive como referência,
E o chamei de chato numa aula de poesia
E nunca mais tirei nota maior do que seis.
É um castigo, Drummond?
Ou o tato dos avaliadores é vingativo
Como uma surra de cinta dada pelo pai que nunca veio?
Ou da mãe que fecha os olhos
Para o arreio?
Numa coisa você tem razão, Drummond,
A vida é chata mesmo,
Fechada em arquivos burocráticos,
Onde o coração não bate como a zabumba
Dos meus parentes distantes
E que nem conheço.
Minha referência é:
Rimbaud
Bukowski
Bandeira
Leminski
Raduan
Fante
Miller
Mas você, eu chamei de chato,
Nas plagas das carteiras da universidade,
E o mundo se irou e se vingou
Dos meus versos,
Abriu a abóboda celeste
E mandou anjos vingadores
Para o meu despejo da Polis.
Minha referência
É a nau louca com os personagens de Hieronymus Bosch,
O profundo e o profano
O analítico e o insano
O céu rasgado em vermelha misericórdia
Pela minha ousadia e razão,
Tua estátua afogada pelo tsunami e devorada
Pelos tubarões do magistério,
Eu, entrando pela fissura do que não fenece,
Mesmo com uma torcida grande
Para que isso aconteça.
Sabe, Drummond, eu mesmo poderia colocar
O cigarro em sua boca,
O colírio em seus olhos,
Fazer uma festa e chamar o pobre José
Que não comeu Maria
Que não comeu Teresa
Que não comeu Ana
Que não comeu Débora
Que não comeu ninguém,
E ficar feliz por fazer uma poesia bonitinha,
Para poder comer alguém,
Qualquer uma,
Mas sou chato como você, Drummond,
E sonho em dormir com a Rainha
De um reino que não é o meu
E me foi negado
Na mesura
Do quarto apagado.
Foi lá que o meu “eu” morreu, Drummond.
Acompanho a escrita de Nelson e gosto muito do estilo dele. Sucessos mais!
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