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quarta-feira, 6 de março de 2024

Autor Convidado

 


   Nelson Alexandre nasceu em Maringá, Paraná. É autor de Paridos e Rejeitados  (Contos, 2012) e Poemas Para Quem Não Me Quer (Poesia, 2013), ambos publicados pela Editora Multifoco -RJ. Em 2005 recebeu Menção Honrosa no prestigiado concurso de contos Newton Sampaio , quando então viu seu trabalho publicado em uma coletânea pela primeira vez. Fez parte da coletânea 101 Poetas Paranaenses , publicada pela Biblioteca Pública do Paraná, em 2014. Teve textos publicados pelas revistas: Literacia, Outras Palavras, Flores do Mal, Germina, e Diversos Afins e nos jornais: Rascunho, Bebop, O Duque e O Diário. É graduado em Letras de Universidade Estadual de Maringá. 


REFERÊNCIA POÉTICA Você, Drummond, nunca foi minha referência, E não nego, Pois, não sou homem de negar aquilo que defendo E digo, Também não sou traidor, Não sou Judas, Drummond, Eu sou poeta, como você, Mas nunca o tive como referência, E o chamei de chato numa aula de poesia E nunca mais tirei nota maior do que seis. É um castigo, Drummond? Ou o tato dos avaliadores é vingativo Como uma surra de cinta dada pelo pai que nunca veio? Ou da mãe que fecha os olhos Para o arreio? Numa coisa você tem razão, Drummond, A vida é chata mesmo, Fechada em arquivos burocráticos, Onde o coração não bate como a zabumba Dos meus parentes distantes E que nem conheço. Minha referência é: Rimbaud Bukowski Bandeira Leminski Raduan Fante Miller Mas você, eu chamei de chato, Nas plagas das carteiras da universidade, E o mundo se irou e se vingou Dos meus versos, Abriu a abóboda celeste E mandou anjos vingadores Para o meu despejo da Polis. Minha referência É a nau louca com os personagens de Hieronymus Bosch, O profundo e o profano O analítico e o insano O céu rasgado em vermelha misericórdia Pela minha ousadia e razão, Tua estátua afogada pelo tsunami e devorada Pelos tubarões do magistério, Eu, entrando pela fissura do que não fenece, Mesmo com uma torcida grande Para que isso aconteça. Sabe, Drummond, eu mesmo poderia colocar O cigarro em sua boca, O colírio em seus olhos, Fazer uma festa e chamar o pobre José Que não comeu Maria Que não comeu Teresa Que não comeu Ana Que não comeu Débora Que não comeu ninguém, E ficar feliz por fazer uma poesia bonitinha, Para poder comer alguém, Qualquer uma, Mas sou chato como você, Drummond, E sonho em dormir com a Rainha De um reino que não é o meu E me foi negado Na mesura Do quarto apagado. Foi lá que o meu “eu” morreu, Drummond.

 

Um comentário:

  1. Acompanho a escrita de Nelson e gosto muito do estilo dele. Sucessos mais!

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