Pela manhã bebes o veneno
que o dia te oferece.
Cortas as unhas,
repartes o cabelo,
a vida é tão normal
que até o diabo se entedia.
Imploras aos santos
que a chuva venha,
a tarde seja agradável,
que o chá das cinco
seja saboroso e acrescentas
duas gotinhas de limão.
À noite trocas farpas e amenidades
com os circundantes
e a seguir põe-te a roncar
em comovente beatitude.
Os dias passam por ti
ilesos e carunchados
mesmo quando o orvalho os toca.
Medes a temperatura, a pressão,
vais ao médico e pedes,
servil, que carinhosamente sejam retiradas
as pedras dos teus rins.
O tempo transcorre fagueiro
e um dia tua boca murcha,
teus dentes caem
e já não ouves com a mesma
precisão de antes.
Até que certa manhã, despertas
e recusas o veneno
que o dia te oferece.
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