domingo, 22 de abril de 2018

Resenha


   Estava em outra cidade quando me deparei com o evento de venda de livros usados na rua. Evidentemente fui conferir,como não poderia deixar de ser. E realmente havia algumas coisas interessantes por lá. Entre elas, encontrei o romance japonês  DIÁRIO DE UM VELHO LOUCO de Jun'ichiro Tanizaki., editora Estação Liberdade, 2002.
   Não conhecia nada do autor,mas admiro os romancistas japoneses. Eles escrevem ótimos livros. E minha intuição não falhou. Trata-se de um livro escrito num estilo simples, mas com grande força.
   O personagem principal é Tokusuke Utsugi, um senhor idoso nada respeitável,por assim dizer, que anota em diários a sua obsessão pela nora Satsuko. Ex-corista e com uma conduta não exatamente exemplar, ela o cativa pela beleza e consegue manipulá-lo e se deixa usar para obter vantagens materiais. Doente,velho,impotente, Tokusuke sofre de dores atrozes em sua mão,além de outros problemas de saúde e está sempre às voltas com remédios e problemas físicos. Mas até mesmo as dores são uma fonte de prazer para ele, que busca maneiras alternativas de se excitar e encontrar alguma satisfação.
  Uma narrativa contundente, amoral e chocante para os padrões ocidentais, revela um modo de vida que pauta pelo corpo, com toques sádicos e de voyeurismo que pode levar até um comportamento herético.
   Nas páginas 41 e 42 há uma referência ao filme Orfeu Negro,do diretor francês Albert Camus e ao ator brasileiro Breno Melo no papel de Orfeu, que desperta o interesse de Satsuko, esposa infiel, mulher egoísta e com um toque de perversidade que a torna ainda mais atraente aos olhos do sogro.
    Tratando a respeito da velhice, vida e morte,prazer e dor, Tanizaki nos faz pensar a respeito do humano e de até onde as pessoas podem ir em sua necessidade de experimentar os próprios limites. Não podemos ignorar,é evidente, que estamos muito distantes dos valores do cristianismo e da cultura ocidental,pois o autor manteve-se bastante distanciado desta influência. E assim temos oportunidade de entrarmos em contato com uma outra concepção de mundo e compreensão da vida.
   A literatura oriental possui suas peculiaridades e cabe-nos conhecê-la sem pré-julgamentos e já produziu muitas obras-primas para encantamento dos admiradores do fazer literário.   
   

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