Um tão comum caminho não poderia
apresentar tamanho inusitado.O fato é que apresentou.Nada se destacava ao
redor,nenhuma beleza ou feiura, nenhum aspecto particularmente intrigante. Ele
passava pelo local todos os dias,assim como o vizinho mal-humorado,a mulher das
compras (sempre a carregar sacolas),o menino estrábico e todos os demais.Em
nenhuma das vezes algo de extraordinário aconteceu.Até o momento em que parou.
A causa de sua parada sequer para ele ficou
clara.Todavia,paralisado tornou-se,fitando,à espreita.Então seguiu em frente
como se nada houvera,sem lembrança alguma.No dia seguinte,o mesmo se deu.E
assim sucessivamente,sempre no mesmo ponto.Chegava,parava,ficava.Pasmo por
nada.
Se alguém o interrogasse,não saberia dar
nenhuma resposta e até negaria o acontecimento.Apenas uma lacuna
restando,espécie de amnésia,nenhuma condição teria de saber a respeito da
irresistível atração.
Sim,porque atração era.Não a do tipo
tantalizante,mas a de um ímã,natural.Passava por ali,quedava-se por um átimo,seguia
o caminho.Tratava-se muito mais de um desacontecimento do que de um acontecido.
Aos poucos os vizinhos começaram a
notar,embora ainda sem dar muita importância.Mas quando as repetições ficaram cada vez mais
frequentes e observaram o ar de total alheamento do outro,a inevitável cara de
coisa alguma misturada ao nenhum,inquietaram-se,alvoroçados.Não era
possível.Algo estava se passando e não podiam atinar em que consistiria.
Já, ele, nenhuma percepção das reações
alheias teve.Mantinha a vida como deveria ser,ou ao menos como todos achavam
que era,acreditava.
Numa das manhãs,sutil diferença alterou a
estranha rotina.
Tendo chegado ao ponto de
referência,estacou,mudo.Olhou ao redor, a
paisagem,o horizonte.Perdeu a noção das horas.Desabou braços,desfez a postura
do corpo,arriado.Reteve a respiração,suspiro.Vasculhou as quatro direções,todo
o quadrante.Apurou vaga sensação a dominá-lo.Endureceu a retina,extático.Não
havia mais escapatória.
Soube,de modo irremediável,da gravidade da
situação.Soube,com a maior exatidão,qual era o caso. Soube.
Nunca mais passou por ali.
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