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terça-feira, 20 de setembro de 2016

AQUI

     Um tão comum caminho não poderia apresentar tamanho inusitado.O fato é que apresentou.Nada se destacava ao redor,nenhuma beleza ou feiura, nenhum aspecto particularmente intrigante. Ele passava pelo local todos os dias,assim como o vizinho mal-humorado,a mulher das compras (sempre a carregar sacolas),o menino estrábico e todos os demais.Em nenhuma das vezes algo de extraordinário aconteceu.Até o momento em que parou.
    A causa de sua parada sequer para ele ficou clara.Todavia,paralisado tornou-se,fitando,à espreita.Então seguiu em frente como se nada houvera,sem lembrança alguma.No dia seguinte,o mesmo se deu.E assim sucessivamente,sempre no mesmo ponto.Chegava,parava,ficava.Pasmo por nada.
   Se alguém o interrogasse,não saberia dar nenhuma resposta e até negaria o acontecimento.Apenas uma lacuna restando,espécie de amnésia,nenhuma condição teria de saber a respeito da irresistível atração.
   Sim,porque atração era.Não a do tipo tantalizante,mas a de um ímã,natural.Passava por ali,quedava-se por um átimo,seguia o caminho.Tratava-se muito mais de um desacontecimento do que de um acontecido.
   Aos poucos os vizinhos começaram a notar,embora ainda sem dar muita importância.Mas quando  as repetições ficaram cada vez mais frequentes e observaram o ar de total alheamento do outro,a inevitável cara de coisa alguma misturada ao nenhum,inquietaram-se,alvoroçados.Não era possível.Algo estava se passando e não podiam atinar em que consistiria.
   Já, ele, nenhuma percepção das reações alheias teve.Mantinha a vida como deveria ser,ou ao menos como todos achavam que era,acreditava.
  Numa das manhãs,sutil diferença alterou a estranha rotina.
  Tendo chegado ao ponto de referência,estacou,mudo.Olhou                                           ao redor, a paisagem,o horizonte.Perdeu a noção das horas.Desabou braços,desfez a postura do corpo,arriado.Reteve a respiração,suspiro.Vasculhou as quatro direções,todo o quadrante.Apurou vaga sensação a dominá-lo.Endureceu a retina,extático.Não havia mais escapatória.
  Soube,de modo irremediável,da gravidade da situação.Soube,com a maior exatidão,qual era o caso. Soube.

  Nunca mais passou por ali.

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