quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ESCRITAS

Em um poema famoso, Emily Dickinson refere-se a alguém que morreu pela Beleza e a um outro alguém que morreu pela Verdade, num encontro tumular,por assim dizer.Com isso a poeta afirma que tanto Beleza quanto Verdade são a mesma coisa.Todavia,melancolicamente podemos concluir que tanto por um caminho quanto pelo outro o resultado também é o mesmo:a morte.
No admirável romance de Virginia Woolf intitulado AS ONDAS,o mundo e a vida são descritos com extrema sensibilidade e beleza.O nascer do dia,uma teia de aranha,um besouro que passa são dignos de nota,reflexão e deleite.No entanto,a presença constante da morte e uma tristeza persistente ao fundo marcam toda a narrativa,projetando certa sombra ao redor de tudo o que existe.Dos seres humanos,principalmente.
Uma outra obra extraordinária,que vai ainda mais fundo na questão do Belo é o livro do escritor japonês Yukio Mishima: O TEMPLO DO PAVILHÃO DOURADO.Nele,o centro da narrativa é a relação da personagem principal com a beleza que tal templo evoca.O sublime desconcerta,fascina,atrai e,sobretudo,perturba.Tanto que incita a uma tentativa de destruição.Talvez a inalcançabilidade daquela presença desperte tanto veneração quanto horror.
Isso nos leva a pensar em como a literatura contemporânea trabalha essa questão.E a resposta,por certo,deve ser tão complexa ou até mais do que as mencionadas anteriormente.Se a partir de Baudelaire optou-se preferencialmente pelo feio,no século XXI cabe realizar-se um sério estudo a respeito.

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